Especialistas e intelectuais debatem momentos marcantes das eleições no TRE-RJ

Seminário Memória Popular discutiu temas como checagem de informação eleições nos tempos da ditadura

foto ampla do evento, com um palestrante e mediador sentados em cadeiras, tendo ao fundo painel ...

No dia do seu cinquentenário, 20 de março, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) recebeu especialistas reconhecidos em diversas áreas para a edição especial do seminário "Memória Popular: histórias e personagens inesquecíveis das eleições no Rio", no Palácio da Democracia, no Centro do Rio. 

O presidente do TRE-RJ, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, abriu o evento, promovido pela Coordenadoria de Comunicação Social. “Nesses 50 anos, não temos como contar a história das eleições sem também retratar o Rio de Janeiro e suas incontáveis transformações que moldaram e continuam a formatar a identidade do Brasil. A política e as eleições não existiriam sem o seu cenário. Aliás, foi aqui no Rio onde surgiu a Justiça Eleitoral, com a fundação do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, em 1932.”

Pioneira da checagem de fatos no Brasil e fundadora da Agência Lupa, a jornalista Cristina Tardáguila contou um pouco da experiência no enfrentamento à desinformação no processo eleitoral, na apresentação do tema “O que aprendemos em dez anos de checagem de fatos nas eleições”.

Além de abordar os desafios enfrentados no combate à desinformação em cada período eleitoral, a  jornalista defendeu que a checagem de informação pode ser feita por qualquer pessoa a partir de dados confiáveis e que é uma ferramenta importante para “municiar o cidadão para saber o que é fato e o que é ficção”.

Para o processo eleitoral de 2026, ela acredita que haverá uma polarização e um desgaste das ferramentas que estão à disposição do checador para trabalhar. “Ao longo desses 10 anos as ‘big techs’ se deram conta que é melhor desligar as ferramentas que antes permitiam aos checadores apontar a desinformação que circula dentro delas a estarem expostos a esse tipo de apontamento”, afirmou a jornalista.  

Nesse contexto, Cristina Tardáguila pediu a ajuda de todos para pressionar socialmente e elogiou a atuação da Justiça Eleitoral, por ter criado um comitê anti desinformação em 2020. Ela relembrou que a iniciativa teve início a partir de uma conversa com o então ministro do TSE Luís Roberto Barroso em um congresso, quando ela defendeu a necessidade de os checadores trabalharem mais próximos da Justiça Eleitoral. 

“Peço que haja um esforço da Justiça Eleitoral para reativar e reempoderar o comitê e também relembro que a gente precisa exigir, enquanto sociedade, transparência dos dados e acesso às ferramentas que permitem o trabalho dos checadores nas eleições, que se aproximam e tem tudo para serem bastante complicadas”, afirmou a checadora.

O jornalista e pesquisador de carnaval Aydano André Motta abordou o tema “O Carnaval como passarela dos enredos de protesto”. Com uma riqueza de detalhes e personagens, Aydano contou como funcionam e se estruturam as escolas de samba. “Elas estão totalmente inseridas no contexto social, são permanentes, não brotam em fevereiro no Carnaval, quando termina um desfile já começam a se preparar para o outro”, afirmou.

Aydano explicou que as escolas de samba se consolidaram como uma forma muito forte de poder ao longo dos anos. Desde 1932, quando o desfile foi criado pelo jornalista Mario Filho, só não ocorreu em 2021 por conta da pandemia. Para ele, uma das razões para isso é que são espaços de muita diversidade, onde convivem pessoas de diferentes crenças políticas e condições sociais. 

“Não acredito que podemos encontrar ambiente com tanta tolerância quanto as escolas de samba. Elas são a melhor cara do Brasil. O País não produziu nada melhor do que suas escolas de samba”, afirmou.

O jornalista também fez um elogio à Justiça Eleitoral por entender que ela atuou como mestre-sala nas eleições de 2022. “No Carnaval, a porta-bandeira é a protagonista, sendo o mestre-sala o coadjuvante, protegendo e guardando a bandeira”, explicou. No pleito de 2022, segundo ele, a democracia esteve por um fio e a Justiça Eleitoral foi a sua guardiã.

Já o cientista político e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa Christian Lynch abordou o tema “Os impactos contemporâneos da fusão entre Guanabara e Rio de Janeiro”. Seu interesse surgiu, entre outros motivos, pelo fato de ser um assunto ainda muito pouco estudado na academia.

Christian Lynch também fez uma análise histórica e política da transferência da capital federal para Brasília na década de 60. Ele explicou que o Rio de Janeiro ainda guarda muitos traços da época em que era a capital federal. Para entender melhor essa questão, ele fez uma pesquisa sobre os órgãos públicos federais sediados no Rio. “Descobri que um terço da administração direta e indireta federal está no Rio e, no quantitativo de servidores, o Rio tem mais servidor federal do que estadual, é o único estado com essa característica”, afirmou.

1/ Galeria de imagens

Tendo o Rio “ainda uma identidade de capital”, o cientista político analisou o quanto isso poderia afetar a cidade. “A questão da fusão não foi discutida, foi imposta na época do AI 5 (ato institucional na época da ditadura), houve uma intervenção militar para criar o novo estado do Rio, essa decisão nunca foi sujeita a plebiscito”, ressaltou, acrescentando que não se trata de uma desfusão agora, mas sim de criar uma identidade própria. “O problema é como resolver essa questão da presença federal no Rio, um lugar diferente de todos os outros estados do país”, concluiu Christian.

Por fim, o professor Daniel Aarão Reis, titular da cátedra de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, abordou o tema “Como eram as eleições durante a ditadura militar até 1982”. O historiador iniciou a sua fala explicando que o período da ditadura no Brasil foi “marcado por eleições em todos os níveis, apesar de não ser um tema que se pensa quando falamos desses momentos históricos”.

Daniel Aarão justificou a permanência das eleições nesse período pelo fato de o Golpe de 1964 ter sido feito por uma frente heterogênea. “Esse grupo heterogêneo se dizia contra o comunismo, a corrupção e para a salvaguarda da democracia”, explicou.

Apesar de 1985, com a eleição do José Sarney para presidente da República ser considerado o marco da redemocratização do país, Aarão defendeu que, desde 1979, com a revogação dos atos institucionais, não havia mais a ditadura de fato, uma vez que o governo não tinha mais condições de modificar leis e alterar as regras do jogo. “Entre 1979 e 1988 vivemos um período muito particular de transição, em que não tinha mais ditadura, mas também não tínhamos a democracia”, explicou.

O historiador defendeu que é preciso resgatar e revalorizar os episódios eleitorais durante a ditadura. “Há atualmente muita descrença no Brasil e cada vez mais nos processos eleitorais. É preciso reagir contra isso. O pior congresso é melhor que a melhor ditadura, se é que se pode falar que uma ditadura pode ser melhor”

Por fim, Daniel Aarão fez uma defesa da Justiça Eleitoral. “Temos que revalorizar também a nossa Justiça Eleitoral, ela é resultado de um processo de luta contra eleições truncadas da primeira República. Teve um breve surgimento nos anos 30, foi destruída pela ditadura do Estado Novo, restaurou-se em 45 e, depois, aos trancos e barrancos, viveu a ditadura, para finalmente ressurgir com grande protagonismo. É uma instituição que não existe em toda a parte e em todo o mundo, mas é uma instituição a ser preservada”.  

O seminário, mediado pelo coordenador de Comunicação Social do Tribunal, Stéfano Salles, foi transmitido ao vivo e está disponível no canal do TRE-RJ no YouTube

ícone mapa
Sede Nova - Palácio da Democracia
Rua da Alfândega, 42 - Centro
CEP 20.070-000 - Tel: (21) 3436-9000

Sede Antiga
Av. Presidente Wilson, 194/198 - Centro
CEP 20.030-021 - Tel: (21) 3436-9000
Ícone horário de funcionamento dos protocolos

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro funciona de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h

Horário de atendimento nos cartórios eleitorais : de 11h às 19h

Disque TRE-RJ: (21) 3436-9000 - Horário: 11h às 19h

Acesso rápido