Desinformação nas eleições é tema de palestra promovida pela Emerj
Evento realizado em parceria com EJE do TRE-RJ discutiu desafios das redes sociais, uso de IA e combate às fake news no contexto eleitoral

A Escola Judiciária Eleitoral Desembargador Roberto Felinto participou, nesta segunda-feira (20), da palestra "A responsabilidade do impacto das informações nas eleições", no Auditório Desembargador Antônio Carlos Amorim do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). O evento debateu a influência da desinformação nas campanhas eleitorais e formas de combatê-la. A atividade foi organizada pelo Fórum Permanente de Direito Eleitoral e Político Desembargador Antônio Jayme Boente, em parceria com o Fórum Permanente de Segurança Pública e Execução Penal, ambos da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj).
Durante a abertura, a diretora da EJE do TRE-RJ, desembargadora Maria Helena Pinto, destacou a relevância do tema no contexto atual de redes sociais e ferramentas tecnológicas. "Desinformação sempre houve. Mas, agora, ela se aprimorou e cresceu, e muitas vezes é divulgada de uma forma tão próxima à realidade que fica difícil para o eleitor distinguir. Além disso, sua disseminação se dá com a rapidez de um clique de um celular", afirmou.
O discurso de ódio também foi mencionado como elemento associado à desinformação. "Mais grave no âmbito eleitoral, pois leva a distensões políticas que refletem a sociedade e se retroalimentam", analisou a magistrada.
Também participaram da mesa de abertura o presidente do Fórum Permanente de Direito Eleitoral e Político, desembargador Fernando Cerqueira Chagas, e o corregedor-geral da Justiça do TJRJ, desembargador Cláudio Brandão de Oliveira.
POLARIZAÇÃO E ECOSSISTEMA DIGITAL
A ministra do Tribunal Superior Eleitoral Estela Aranha apontou que a polarização política, ocorrida em diversos países e impulsionada pelas redes sociais, tem relação com um ecossistema de desinformação, os quais envolvem aspectos técnicos, econômicos e sociais.
"Além da monetização de conteúdo e ferramentas de Inteligência Artificial (IA), que tornam mais plausíveis narrativas fictícias, existe o fator relacionado ao pertencimento de grupo, que as redes sociais proporcionam", avaliou. "Estimulam um reforço de identidade que leva à radicalização de discursos. Buscam uma lealdade de base e deslegitimação do adversário por meio do discurso 'nós contra eles'", resumiu a ministra.
Para a magistrada, o uso de bots (robôs), a atuação de influenciadores digitais e a falta de transparência na forma como ocorre a circulação de dados em grandes plataformas impactam o debate público e amplificam as desinformações, especialmente no âmbito eleitoral. "Como medir em termos monetários um algoritmo que favorece uma campanha? Ou o impacto financeiro de influenciadores nas campanhas?", questiona.
DESAFIOS DA FISCALIZAÇÃO
O diretor-geral da Emerj e ex-presidente do TRE-RJ, desembargador Cláudio dell'Orto, ressaltou que a desinformação gera desafios para a Justiça Eleitoral que vão além da fiscalização da propaganda de candidatos. "A desmobilização de eleitores é um problema. Existe a narrativa de que a política e o voto não valem a pena", disse.
Para ele, as grandes empresas de tecnologia se tornaram atrizes fundamentais na dinâmica da sociedade. "Não se trata apenas do poder sobre a circulação de informações, mas sobre o juízo acerca delas, ou seja, o seu valor", ponderou.
O magistrado apontou o desafio da educação midiática e do letramento, ressaltando a importância de incentivar canais oficiais e institucionais que promovam informação de qualidade. "O Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação do TSE é uma conquista", celebrou.
MARCO REGULATÓRIO
A coordenadora de Estudos e Pareceres da Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB/RJ, Lúcia Maria Teixeira Ferreira, falou que a Resolução 23.732/2024 atualizou a legislação eleitoral sobre propaganda eleitoral, prevendo em seu artigo 9º-D e F o dever dos provedores de aplicação de internet "na adoção e publicização de medidas para impedir ou diminuir a circulação de fatos notoriamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que possam atingir a integridade do processo eleitoral".
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DEMOCRACIA
Já o desembargador eleitoral Bruno Bodart, vice-diretor da EJE do TRE-RJ e membro do Fórum Permanente de Direito e Economia da Emerj, traçou um panorama histórico sobre a liberdade de expressão, passando pela Revolução Francesa e pela promulgação da Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos. "Em uma democracia, temos que garantir o fluxo de informações saudáveis. No entanto, as regras formais por si só são insuficientes para garantir liberdades. É preciso respeito às normas sociais e culturais pelo povo", afirmou.
Crédito da foto: Jenifer Santos - Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)